Rede Amamenta Brasil cruza a fronteira

Publicado em 09/11/2010 00h:00min.

A experiência brasileira da Rede Amamenta Brasil acaba de cruzar a fronteira

Leia abaixo a matéria publicada no Portal do Ministério da Saúde sobre a Rede Amamenta Brasil: 

Com apenas dois anos em operação, a estratégia do Ministério da Saúde de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno em unidades básicas de saúde (UBS) recolhe frutos e inspira outros países. Exemplo disso é o Paraguai, que acaba de iniciar sua própria Rede Amamenta com a formação dos 12 primeiros tutores que multiplicarão a iniciativa no país. Há tutores formados também na Argentina. Esses dois países participaram da oficina da Rede Amamenta Brasil realizada em março, em Foz do Iguaçu, com o apoio do Grupo de Trabalho ITAIPU/SAÚDE binacional e Secretaria Municipal da Saúde. Colômbia e Peru também demonstraram interesse e buscaram apoio do governo brasileiro para implementar a Rede. A oficina com esses dois países iniciou em novembro. A idéia é fazer com que mais nações se juntem a essa grande teia para, futuramente, lançar a Rede Amamenta Latinoamericana.

Em entrevista concedida ao Ministério da Saúde, a coordenadora nacional de Aleitamento Materno do Ministério de Saúde Pública e Bem-Estar Social do Paraguai, Sandra Recalde, conta como o país implementará a Rede Amamenta em suas unidades básicas de saúde, os desafios do governo para aumentar os índices de amamentação e os benefícios que a iniciativa trará, a longo prazo, para a saúde da população paraguaia.

Confira a entrevista na íntegra:

Ministério da Saúde: Como conheceu a REDE AMAMENTA BRASIL?

Sandra Recalde: Em outubro de 2009, foi realizada uma reunião internacional na Guatemala sobre a atualização do uso de materiais da Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Nessa ocasião, conheci a coordenadora da Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde do Brasil, Dra. Elsa Giugliani. Entre os vários trabalhos em grupos previstos no encontro da IHAC, coincidimos, nós duas, em um grupo que tratava de diferentes estratégias de promoção do aleitamento materno. Foi então que a Dra. Elsa me entregou um folder sobre a REDE AMAMENTA BRASIL, que despertou muito minha atenção. Como manifestei interesse, Elsa propôs que participasse de um dos cursos de formação de tutores da REDE AMAMENTA. Entrei no site do Ministério da Saúde do Brasil, encontrei materiais como o Caderno do Tutor, o Caderno Nº 23 de Atenção Básica, e todo tipo de informação relacionada ao tema. E foi assim que tudo começou.

MS: Que aspectos e características da REDE AMAMENTA BRASIL lhe parecem mais importantes e positivos?

SR: O aspecto mais significativo da REDE AMAMENTA BRASIL é a metodologia utilizada, que é inovadora e está baseada em um arcabouço teórico que não enfoca somente os conhecimentos cognitivos do profissional, mas está também dirigido à pessoa como indivíduo e parte de uma comunidade. Daí a importância de enfocar como uma gestão de trabalho em saúde a partir de uma concepção de trama ou tecido (rede) que, para garantir a atenção integral, sugere a troca de saberes entre os profissionais através de diálogos e definição de responsabilidades.

MS: No geral, como está a situação do aleitamento materno no Paraguai e quais são os principais desafios?

SR: Os índices aleitamento materno no Paraguai, em termos gerais, não são bons. A última pesquisa CEPEP (Centro de Estudios de Población), de 2008, mostra que há apenas 25% de prevalência de aleitamento materno exclusivo. Existe particularmente um bom início de amamentação, já que 97% de nossas crianças foram alimentadas diretamente no peito na primeira semana de vida. Mas esse dado cai bruscamente logo em seguida em razão do predomínio de alimentação artificial ou do que chamamos de alimentação mista (peito + outros leites), além da introdução precoce de alimentos antes dos seis meses. E isso se reflete posteriormente nos indicadores da desnutrição global do país, que é de 4,2%.O desafio dessa nova administração é aumentar os índices de aleitamento materno exclusivo e da amamentação prolongada. Ambos estão previstos no Plano Nacional de Promoção da Qualidade de Vida e Saúde com Equidade da Infância 2010-2015, por isso nosso interesse no êxito da REDE AMAMENTA e demais ações para cumprir a meta 4 dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que é a Redução da Mortalidade infantil.

MS: Como você acredita que a REDE AMAMENTA pode contribuir e melhorar a saúde da população paraguaia?

SR: A oportunidade de conhecer a Rede não poderia ter sido melhor! O Paraguai está passando por uma mudança profunda de paradigma em seu modelo de saúde. Estamos também iniciando a implementação das Unidades Básicas de Saúde, no âmbito de um Sistema Único de Saúde concebido nos moldes do Brasil. Consideramos que com a estratégia da REDE AMAMENTA, a contribuição para melhorar os índices de aleitamento materno e alimentação complementar a partir da atenção básica consolidará todas as demais ações relacionadas a saúde da população do Paraguai, sobretudo pela metodologia participativa e o sólido arcabouço teórico com que foi construída.

MS: Como o Ministério da Saúde do Paraguai pretende implementar a REDE AMAMENTA em seu território? Existem prazos, metas e recursos humanos e financeiros para fazê-lo?

SR: Há pouco tempo tivemos a oportunidade de realizar o Curso de Formação de Tutores, do qual participaram 12 profissionais de 3 Regiões Sanitárias que correspondem a área de influência de Itaipú. Esses mesmos profissionais elaboraram um plano em pequena escala para realizar, ainda este ano, pelo menos 5 oficinas de trabalho nas UBS de sua área de influência e continuar formando mais tutores com a supervisão das tutoras do Brasil. Não temos recursos financeiros disponíveis assim, de imediato, mas já propusemos a implementação da Rede com o apoio das diferentes cooperações internacionais com as quais o Ministério da Saúde trabalha. Atualmente, apenas o Alto Paraná dispõe de fundos para as atividades planejadas. As demais tomaram para si o desafio de trabalhar com recursos gerados em suas próprias comunidades através de alianças com seus atores sociais.

MS: Como acha que as equipes de saúde, profissionais e instituições envolvidas receberão esta iniciativa?

SR: A recepção com o primeiro grupo de profissionais que participou da oficina superou todas as expectativas. É uma grande vantagem que os médicos, enfermeiras e obstetras que estão se incorporando às novas Unidades de Saúde sejam profissionais jovens, com vontade de explorar novas estratégias de trabalho. Na graduação, esses mesmos profissionais já haviam visto a importância da atenção primária de saúde e sua repercussão no estado geral da comunidade na qual se comprometeram a servir. E como todo processo leva tempo, seguramente eles irão se ajustar de acordo com a disponibilidade também dos próprios recursos com que contamos. Mas estamos muito otimistas, pois esse projeto, que antes era só uma proposta, é hoje uma realidade no Paraguai.

MS: Comentários e observações

SR: Gostaria de manifestar nossos mais sinceros agradecimentos às coordenadoras de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Brasil, Elsa Giugliani e Lílian Cordova do Espirito Santo, e ao Ministério da Saúde do Brasil, que nos deu o apoio necessário para que hoje já pensemos em iniciar a REDE AMAMENTA LATINOAMERICANA.