O aleitamento materno em Portugal

Publicado em 11/03/2020 01h:01min.

O leite materno é um alimento vivo, completo e natural, adequado para quase todos os recém-nascidos, salvo raras exceções. As vantagens do aleitamento materno são múltiplas e já bastante reconhecidas, quer a curto, quer a longo prazo, existindo um consenso mundial, entre os pediatras e a Organização Mundial de Saúde (OMS), de que a duração ideal do aleitamento materno exclusivo, ou seja, sem que seja oferecido ao bebé mais nenhum alimento, é de 6 meses, desde que o bebé tenha um bom estado nutricional, aumente de peso de maneira adequada e tenha um bom desenvolvimento psicomotor.
Em termos de vantagens, para o bebé, sabemos que o leite materno previne infeções gastrintestinais, respiratórias e urinárias, tem um efeito protetor sobre as alergias, nomeadamente as específicas para as proteínas do leite de vaca, e faz com que os bebés tenham uma melhor adaptação a outros alimentos. Já para a mãe, amamentar facilita a involução uterina, ajudando a recuperar o peso ganho durante a gravidez, associa-se a uma menor probabilidade de ter cancro da mama e constitui o método mais barato e seguro de alimentar os bebés.
Em Portugal não existem grandes estatísticas sobre a incidência e a prevalência do aleitamento materno, mas alguns estudos estimam que mais de 90% das mães portuguesas iniciam aleitamento materno, no entanto, quase metade destas mães desistem de amamentar durante o primeiro mês de vida do bebé. Os resultados destes estudos mostram que, atualmente, a maior parte das mães não consegue cumprir o seu projeto de amamentação, desistindo muito precocemente.
E por que será que isto tem vindo a acontecer? Começando pelos fatores familiares, observa-se nos dias de hoje, que, por motivos profissionais, há uma maior distância entre as jovens mães e as suas famílias de origem. Por se tratar de um processo histórico, social, cultural e psicologicamente delineado, a amamentação sempre foi muito ligada às crenças, valores e mitos repassados de forma intergeracional na rede familiar. Deste modo, percebe-se que a família é um pilar fundamental para a ações de promoção e incentivo ao aleitamento materno, já que as experiências da mesma são muito valorizadas e respeitadas, especialmente nos cuidados com o recém-nascido. Para além disso, alguns estudos sugerem também que, as mães que escolhem amamentar por razões ligadas às vantagens do aleitamento materno, amamentam durante mais tempo, com maior prazer e experimentam menos crises lácteas. Por outro lado, uma gestação planeada ou desejada parece ser um pré-requisito importante para o sucesso do aleitamento materno, o que reforça a importância das consultas de planeamento familiar disponibilizadas gratuitamente pelos cuidados de saúde primários.
Dentro dos fatores socioeconómicos, o regresso ao trabalho é um dos fatores, apontados pelas mães, que mais contribui para a cessação precoce do aleitamento materno. Atualmente, a licença de maternidade, prevista na lei, pode ter uma duração máxima de 120 dias consecutivos (4 meses) pagos a 100%, sendo monetariamente penalizadas as licenças que vão para além deste período. Esta limitação remuneratória é certamente uma barreia, para muitas famílias, no cumprimento das recomendações ditadas pela OMS relativamente ao aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses de vida do bebé. Deste modo, podemos concluir sobre a necessidade de desenvolver, em Portugal, medidas que promovam um maior sucesso do aleitamento materno, inseridas tanto nas políticas públicas de incentivo à natalidade e de promoção de saúde infantil, como nos projetos de desenvolvimento de literacia em saúde dirigidos à população.

Fonte: https://oregional.pt/o-aleitamento-materno-em-portugal/