#Smam2021 - Em mês dedicado ao aleitamento materno, Opas promove seminário sobre nutrição no início da vida

Publicado em 01/09/2021 09h:54min.

Evento possibilitou analisar as evidências disponíveis, considerando os desafios da saúde e nutrição no início da vida na região das Américas

Organizado pelo Centro Latino-Americano de Perinatologia, Saúde da Mulher e Reprodutiva (CLAP)/Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde, o seminário Nutrição no início da vida: Implicações e desafios na Região das Américas integra uma série de seminários que o Clap vem realizando sobre temas que relacionados à saúde perinatal e reuniu especialistas para debater esses assuntos durante as celebrações do Agosto Dourado.

Com o objetivo de identificar as implicações dos cuidados de saúde e nutrição no início da vida, reconhecendo as evidências científicas e a importância de estratégias que contribuam para o início e a manutenção da alimentação de recém-nascidos com leite humano e a superação dos desafios nos diferentes níveis do cuidado; o evento aconteceu virtualmente, no dia 26 de agosto.

De acordo com o assessor regional em Saúde Perinatal do Clap, Pablo Durán, um dos palestrantes e também moderador, a realização do seminário e a abordagem desses temas ganham ainda mais relevância no contexto da pandemia de Covid-19, possibilitando analisar as evidências disponíveis, considerar os desafios na região das Américas, fomentando recomendações e cooperação técnica aos países em torno de temas perinatais. “Colocam no cenário novos desafios, novas complexidades, mas, ao mesmo tempo, novas possibilidades de nos conectarmos de forma virtual, a distância, e poder analisar esses aspectos que são sumamente importantes”, disse.

Como Centro Colaborador da Opas/OMS para fortalecer os Bancos de Leite Humano, a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano/Fiocruz participou do seminário, dado seu papel pela segurança alimentar e nutricional para recém-nascidos e no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030.


Apresentação do coordenador da rBLH: “O nosso compromisso fica para além do período neonatal”

O coordenador da rBLH, João Aprigio Guerra de Almeida, fez uma apresentação sobre como o trabalho dos Bancos de Leite Humano é conduzido e alicerçado nas garantias de qualidade e de acesso, seja por meio da amamentação, do leite humano doado ou pelo apoio dado às mães lactantes. Ele destacou a importância de trazer a discussão sobre segurança alimentar na atenção neonatal, e não apenas na fase de introdução alimentar complementar em tempo oportuno. Os BLHs, como casas de apoio à amamentação, se colocam como estratégicos nesse cenário.

A Carta de Brasília 2015, o mais recente marco internacional, direcionou a atuação da rBLH para os ODSs 3 e 17, evidenciando a promoção do aleitamento materno como parte das ações de prevenção das doenças crônicas não-transmissíveis e promoção da saúde mental e bem-estar. “O nosso compromisso fica para além do período neonatal”, disse.

O trabalho com os países cooperantes e seus sistemas de saúde, além de estar alinhado com o ODS 17 (Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável), também se mostrou importante para superar as barreiras impostas pela pandemia. “Se não fosse pelas alianças globais, pela associação e governança, pela união de esforços para trabalhar de forma muito próxima dos governos, promover intercâmbios de conhecimento e de especialização nesse contexto, nós não teríamos avançado o que avançamos”.

Pensar a nutrição no início da vida na região das Américas precisa ser acompanhado pelo conhecimento da situação atual e dos desafios a serem superados. Nesse contexto, Pablo Durán trouxe o tema “Saúde e nutrição nas primeiras fases da vida: equidade e direitos”. 

Um estudo de publicado em março de 2021, na revista The Lancet, que mostra que houve pouca melhora na nutrição perinatal em crianças menores de cinco anos, no período de 2000 a 2015, na região da América Latina e Caribe. Somado a isso, os avanços alcançados colocam em evidência a importância de ações nos primeiros seis meses de vida e, principalmente, nos primeiros mil dias. As iniquidades socioeconômicas mostraram-se determinantes centrais na má nutrição em mulheres e crianças.

Para Durán, esses dados mostram a necessidade de abordar os desafios nos níveis regional, nacional e institucional, envolvendo tomadores de decisão, gerentes, pesquisadores, academia, famílias e cuidadores, para que cada um, em seu âmbito de atuação, possa contribuir. “Sabemos que a saúde e a nutrição requerem intervenções intersetoriais, multidisciplinares, onde tanto o sistema de saúde, o sistema de nutrição e os de apoio social são fundamentais para ações pontuais e no curso do tempo”, ressaltou o assessor.


Pablo Durán e Audrey Morris

A assessora de Nutrição da Unidade de fatores de Risco e Nutrição/Opas, Audrey Morris trouxe dados do Unicef que mostram as taxa de recém-nascidos que amamentam antes da primeira hora, correspondendo a 42%, no mundo, e 52% na região da América Latina e Caribe. Em sua apresentação “Aleitamento materno e nutrição precoce: o começo certo”, Morris falou sobre a situação atual da amamentação, as barreiras e as oportunidades perdidas, como é possível abrir o caminho para o aleitamento materno e as lições dos países que têm tido sucesso na garantia da segurança alimentar.

Em Camboja, o incremento das campanhas de informação e promoção possibilitou o aumentou da taxa de iniciação precoce da amamentação de 6% (1998) para 63% (2014), resultado acompanhado pela redução do uso de suplementos alimentares nos primeiros seis dias após o nascimento. Já na República Dominicana, a mesma taxa sofreu redução de 62% (2002) para 38% (2014). Dada essa situação, o Ministério da Saúde dominicano vem desenvolvendo ações de promoção, proteção e suporte à amamentação.

Para transpor as barreiras que a amamentação precoce ainda enfrenta e continuar avançando na segurança alimentar, Morris ressaltou a importância de iniciativas como o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno e os 10 passos para uma amamentação bem-sucedida. “Temos que ter cuidado com a desinformação e, para isso, é importantíssimo usar essas ferramentas que estão à disposição para fortalecer a nutrição logo no início”, acrescentou.

Ampliar o espaço de intercâmbio de conhecimento científico, tecnológico e cultural em torno do aleitamento materno é, para João Aprigio, decisivo para alcançar a melhoria da qualidade da saúde das populações. “Nós temos que continuar perseguindo essa nossa trajetória de fortalecer a integração das nossas ações, fortalecer a nossa união enquanto países que integram a Rede de Bancos de Leite Humano, com o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde”, finalizou o coordenador da rBLH.

O evento está disponível no canal da Opas no Youtube.