SMAM 2020 - Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique debatem aleitamento materno em tempos de pandemia

Países apresentaram o panorama das situações e estratégias de enfrentamento desenvolvidas

Os impactos da pandemia de Covid-19 no aleitamento materno e na doação de leite humano, e as ações de enfrentamento foram o principal objetivo do encontro virtual realizado no dia 5/8, que reuniu representante de Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique. A celebração da Semana Mundial de Aleitamento Materno 2020 fez parte da série de ações e intervenções realizadas pelo mundo para promover, proteger e apoiar o aleitamento materno.

A webinar “Implicações da pandemia da Covid-19 na alimentação infantil em Moçambique, Cabo Verde, Angola e Brasil” reuniu diversos profissionais e atores da nutrição e alimentação infantil dos países e trouxe os principais dados sobre o aleitamento materno e as estratégias para garantir a continuidade do ato durante a pandemia e também para que este tenha o seu papel social fortalecido. 

As apresentações trouxeram um panorama da situação do aleitamento materno nos países e foram feitas por Lucinda Manjama, nutricionista e coordenadora da área de Alimentação Infantil – (Misau, Moçambique); Irina Spencer, nutricionista e coordenadora do programa Nacional de Nutrição (Cabo Verde); Elisa Gaspar, médica pediatra e coordenadora do Banco de leite Humano (BLH) de Angola; e Janini Ginani, nutricionista e coordenadora de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde do Brasil.

“Nós como países, nações, fazemos advocacia para que o aleitamento materno seja prioridade”, disse a moderadora do painel, Júlia Nhacule, Oficial de Nutrição da Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), de Moçambique. O tom de colaboração foi presente durante as apresentações, principalmente para ressaltar a necessidade de intervenções inter e multissetoriais que suportem e incentivem o aleitamento materno. Somente por meio de intervenções integradas é possível que o ato seja estabelecido de forma sustentável e o apoio à mãe lactante contemple a diversidade de aspectos envolvida no aleitamento.

Os principais desafios encontrados pelos países nessa época de pandemia perpassam os mesmos eixos: transmitir informação adequada à sociedade sobre a segurança da amamentação nesse momento e a ausência de evidências sobre a transmissibilidade do vírus pelo leite materno. A coleta domiciliar também tem sido uma fundamental ação para garantir a segurança das mães doadoras e manter a doação do leite materno. Em Cabo Verde, foi feita uma campanha para incentivar as mães a doarem de suas casas, evitando a aglomeração e tornando possível incentivar a captação de mais mães doadoras. 

Além disso, os países reforçaram a capacitação técnica dos profissionais para que estejam preparados não só tecnicamente, mas também para repassar as informações de segurança às mães e famílias, seguindo as orientações e recomendações da Organização Mundial da Saúde. O incentivo e estímulo ao aleitamento materno continua tendo em conta os benefícios à mãe, ao bebê e a um planeta mais saudável. Em caso de suspeita ou confirmação de Covid-19, as medidas de segurança são higienização de mãos e colo e uso de máscaras. Caso a mãe se sinta insegura, pode fazer a extração e alimentar o bebê com colher ou copo. É importante acrescentar que a mãe não deve ser separada do filho e, se infectada, mantenha o distanciamento seguro.

Apesar das inúmeras evidências científicas acerca dos benefícios do aleitamento materno, há desafios para que esta seja uma pauta determinante de saúde pública. Um deles é a legislação trabalhista sobre licença maternidade. Mesmo com alguns avanços, ainda é uma dificuldade para muitos países, podendo variar de dois a seis meses. Uma questão importante nesse aspecto é o apoio e incentivo dos empregadores à amamentação, destinando tempo e espaço apropriados para a extração do leite. No Brasil, a ação Mulher Trabalhadora que Amamenta conta com o apoio do empregadores para implantarem salas de amamentação nos locais de trabalho.

Os impactos positivos do aleitamento materno na redução da mortalidade infantil e na segurança alimentar das crianças são um aspecto importante e que reforçou, inclusive, o papel dos BLHs no apoio e promoção do aleitamento materno. A inauguração do primeiro BLH de Moçambique, em 2018, e de Angola, em 2019; foi uma das estratégias dos países para garantir que as crianças sejam alimentadas com o leite materno. 

As taxas de aleitamento materno exclusivo até os seis meses nos países foram de 55% (Moçambique, em 2015), 45,7% (Brasil, em 2019), 42% (Cabo verde, em 2018) e 38% (Angola). Continuar mudando essa realidade, exige, segundo as participantes, o engajamento social e de elementos técnicos e políticos.

Dentre as ações desenvolvidas para melhorar esse quadro, foram apontadas, a implementação e monitoramento do Código de Comercialização dos Substitutos do Leite Materno, expansão da iniciativa Hospital Amigo da Criança, capacitação dos profissionais da saúde e agentes comunitários, presença dos BLHs e do método canguru. Juntas, essas estratégias fortalecem as informações adequadas, preparam os profissionais e fornecerem o suporte que mãe precisa. O aleitamento materno é uma ferramenta de promoção da saúde e combate à desnutrição e à insegurança alimentar; temas de saúde pública, mas de resolução coletiva.