Sabia que existe um banco de leite humano em Portugal?

Publicado em 31/05/2019 18h:54min.

Há cada vez mais bebés a nascerem antes do tempo previsto e, consequentemente, a precisarem de leite humano (o termo oficial), que nem sempre pode ser dado pelas mães. Seja pelo stress do nascimento prematuro, pelo corpo ainda não estar preparado ou por motivo de doença, há muitas mulheres que não podem alimentar os filhos através do seu leite. Para esses casos foi criado o Banco de Leite Humano da Maternidade Dr. Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa, onde é armazenado leite de dadoras. Este domingo, 19 de maio, é celebrado o Dia Mundial da Doação de Leite Humano, e a NiT aproveita a data para contar todos os pormenores sobre o projeto.

Foi criado em novembro de 2009 e, até ao momento, é o único no País. Numa entrevista à NiT, o doutor Israel Macedo, médico pediatra e neonatologista e responsável pelo banco, explicou que a ideia surgiu no ano anterior.

“Em 2008 estivemos num congresso com alguns colegas espanhóis e brasileiros onde tivemos conhecimento da existência de bancos de leite em vários países e foi aí que começou a tomada de consciência para esta realidade. Percebemos a mais valia de ter leite de dadora para os bebés mais prematuros”, conta.

O objetivo é que os bebés recebam o leite das próprias mães mas, não sendo possível (nos primeiros dias ou de forma permanente), há apenas duas hipóteses: beber leite humano de uma dadora (que vem pasteurizado) ou leite artificial (de vaca). Está comprovado que os bebés que recebem leite humano crescem mais depressa, têm menos de risco de infeção hospitalar e também ficam menos tempo internados.

“O leite ajuda bastante, por exemplo, a diminuir infeções intestinais graves. E mais de 50 por cento destas infeções precisam de cirurgia e outras acabam em mortalidade.”

Entre 2010 e 2011, o banco alcançou um total de cerca de 600 litros de leite humano. Nos anos seguintes, também com a chegada da troika, como explica o especialista, houve restrições no transporte de leite e o número diminuiu. Atualmente, a situação está mais estável. No último ano, por exemplo, chegaram aos 360 litros.

A primeira dadora da USF Conde Oeiras contribuiu com mais de 30 litros de leite

Este aumento deve-se também à ajuda da USF Conde Oeiras (um dos centros de saúde do agrupamento de Lisboa Ocidental e Oeiras), que é o único posto avançado de banco de leite em Portugal. É lá que podemos encontrar Ana Lúcia Torgal. A enfermeira especialista em Saúde Materna e Obstétrica e Consultora Internacional de Lactação é uma das responsáveis por recrutar dadoras.

“As mulheres vão ter os filhos à maternidade e não voltam, a não ser que haja algum motivo de doença ou que os bebés sejam prematuros. Por isso, é difícil arranjar mães dispostas a doar leite lá. É aí que nós ajudamos. A MAC contactou-me porque sabiam que tínhamos sido certificados internacionalmente pela UNICEF como um centro de saúde amigo do bebé, em 2006”, revela à NiT a especialista de 48 anos.

Rapidamente criaram um protocolo e o espaço de Oeiras começou a ter uma consulta específica para a triagem de dadoras.

Inicialmente, havia falta de material, como extratores elétricos (para retirar o leite) e frascos especiais para o armazenamento. Contudo, nesse ano, 2016, a USF Conde Oeiras tinha feito uma candidatura à Missão Continente com o projeto das dadoras. Ana Lúcia Torgal e os colegas deliraram quando o prémio chegou no ano seguinte: cerca de 36 mil euros — o valor mais alto dado até àquela data. Com esse dinheiro compraram tudo o que era necessário, criaram cantos de amamentação nos centros de saúde do agrupamento e deram formação nesta área aos profissionais. A partir daí tudo se tornou mais fácil.

Fonte: https://nit.pt/fit/saude/sabia-existe-um-banco-leite-humano-portugal