Publicado em 30/10/2018 12h:04min.
Registrando cerca de 20 mil partos prematuros por ano e com uma taxa de mortalidade neonatal estimada em 28 mortes a cada mil nascimentos, Moçambique deu um passo importante em prol da saúde neonatal. Em meio a uma grande festa, foi inaugurado, na última sexta-feira (26/10), o primeiro Banco de Leite Humano (BLH) do país, no Hospital Central de Maputo. A unidade é a segunda do continente africano nos moldes do modelo brasileiro: Cabo Verde conta com um BLH em funcionamento desde 2011 e em processo de implantação da segunda unidade. Angola será o próximo país a ganhar um BLH, em Luanda.
A equipe do Hospital de Maputo e as autoridades presentes comemoram a implantação do 2º BLH da África (Foto: Agência Brasileira de Cooperação e Ministério da Saúde do Brasil)
Sob coordenação da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e da Fiocruz, por meio da Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH), a iniciativa representa um importante marco para a diminuição da morbimortalidade infantil, sobretudo no que tange a segurança alimentar e nutricional de recém-nascidos do país africano. “Abrimos hoje uma página na história da qualidade de serviços de assistência a pacientes pediátricos, especialmente dos cuidados neonatais. O BLH que hoje inauguramos é um importante aliado das políticas do nosso governo”, declarou a ministra da Saúde de Moçambique, Nazira Abdula, durante a cerimônia.
Representando a Presidência da Fiocruz, o coordenador executivo do Complexo dos Institutos Nacionais de Saúde da Fundação, Carlos Maciel, ressaltou em seu discurso a trajetória da cooperação entre os dois países e a importância da iniciativa no contexto da Agenda 2030. “A inauguração do BLH de Moçambique reforça o compromisso da Fiocruz com a redução da mortalidade infantil, especialmente no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Desde 2017, a Fundação soma esforços para a criação da Rede de Bancos de Leite Humano da CPLP, a qual foi consolidada este mês, durante a primeira reunião dos países membros em Cabo Verde. A partir de hoje, passamos a ter 333 BLHs em funcionamento. Trata-se de uma ação estratégica para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 3 e 17 da Agenda 2030”, destacou Maciel.
Carlos Maciel (à esquerda) visita o BLH acompanhado de Sonia Bandera (coordenadora do BLH), Luciano Ávila (Aisa) e Paulo Lima (ABC) - Foto: Agência Brasileira de Cooperação
Transferência de princípios
A instalação do BLH do Hospital de Maputo simboliza a coroação do projeto de cooperação bilateral iniciado em 2009 com a primeira visita de integrantes do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), sede do Centro de Referência da rBLH, a Moçambique. Desde então, diversas missões foram realizadas com o objetivo de capacitar a equipe a partir do modelo brasileiro. “Visamos uma cooperação baseada não apenas na transferência da tecnologia moderada e de baixo custo desenvolvida na Fiocruz, mas de princípios. No caso de Moçambique, existiam muitas especificidades, as quais foram trabalhadas ao longo dos últimos anos. É motivo de grande orgulho ver esta unidade em pleno funcionamento”, comemorou o coordenador da rBLH, João Aprigio Guerra de Almeida.
Segundo o embaixador do Brasil em Moçambique, Rodrigo Baena, o país é, atualmente, o maior parceiro da cooperação brasileira em todo o mundo. Com o projeto do BLH já são mais de 40 ações em andamento, com destaque nos campos da agricultura, educação e saúde. “Procuramos desenvolver os projetos de cooperação a partir de experiências bem-sucedidas no Brasil e com foco na capacitação de recursos humanos. A ação BLH é um dos melhores exemplos de cooperação. A partir de uma tecnologia de baixo custo demos um passo decisivo no combate à desnutrição e mortalidade neonatal. Tenho certeza que as mães e os bebês de Maputo sentirão imediatamente os benefícios trazidos pelo BLH”, apontou o embaixador.
Casas de apoio à amamentação
Mãe de dois filhos, Isabele João já comemora a chegada do BLH. Sem conseguir amamentar seu primogênito, agora Isabele tornou-se doadora de leite humano. Além de aumentar o estoque de doação, ela consegue manter o bom estado de saúde do segundo filho. “Essa experiência é ótima e veio no momento certo, estávamos mesmo precisando deste apoio. São muitas crianças, muitos bebês que precisam desse leite materno. Aconselho as mães que venham abraçar essa causa”, afirmou.
Isabele João foi uma das primeiras doadoras do novo BLH (Foto: Agência Brasileira de Cooperação e Ministério da Saúde do Brasil)
“Estamos capacitados para proteger, promover e apoiar o aleitamento materno, assim como a coleta de leite humano no Hospital Central de Maputo e também na comunidade dos centros de saúde periféricos”, reforçou o especialista em Saúde do Hospital Central de Maputo, Rafael Joaquim. Para ele, a perspectiva é que a partir da implantação do BLH, seja possível aprimorar as técnicas de amamentação nas comunidades e instituições locais e reformular as políticas de saúde pública sobre leite humano no país.
Funcionando como casas de apoio à amamentação, entre 2009 e 2017, os BLHs atenderam cerca de 21 milhões de mulheres com algum tipo de dificuldade relacionada à amamentação. No mesmo período, a Rede Global de Bancos de Leite Humano beneficiou mais de dois milhões de recém-nascidos prematuros e/ou de baixo peso internados em Unidades de Tratamento Intensivo.
Extraído de: Agência Fiocruz de Notícias com informações da Agência Brasileira de Cooperação