Publicado em 17/05/2019 13h:32min.
“Há 45 anos eu era uma recém-nascida prematura, que foi desenganada pelos médicos. Precisei do leite doado e foi isso que salvou minha vida”. Esse é um breve resumo do começo de vida da enfermeira Viviane Pacheco, que um dia precisou da doação de leite humano, assim como acontece, todos os anos no Brasil com 330 mil crianças que nascem prematuras ou com baixo peso (menos de 2,5 kg). Para que outros brasileiros tenham a mesma história de sucesso, o Ministério da Saúde, em parceria com a Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH) – representada no Brasil pela Fiocruz -, lançou, nesta sexta-feira (17), no Rio de Janeiro, a Campanha Nacional de Doação de Leite Materno.
“O leite materno é insubstituível e é com ele que vamos ganhar a batalha da vida contra a morte. Nosso desafio é fazer da doação um ato de amor, de entendimento ao próximo”, declarou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que lançou a campanha no Instituto Fernandes Figueira (IFF), na capital fluminense. “A criança internada na UTI neonatal com acesso ao leite materno tem uma reabilitação mais rápida” explicou o ministro, que conclamou a sociedade a apoiar a causa. “Todos podem se envolver. Utilize sua rede social para o bem, fale, converse”.
Aumentar em 15% o volume de leite materno coletado e aumentar o número de doadoras são as metas da campanha de 2019, que, além de sensibilizar gestantes e lactantes para a importância deste ato de solidariedade, visa também desmistificar que é preciso ter ‘muito leite’ para ser doadora. Qualquer quantidade de leite humano doado pode ajudar os bebês internados nas UTIs neonatais a terem uma melhor recuperação e uma vida mais saudável. Dependendo do peso do recém-nascido, apenas 1 ml já é suficiente para nutri-lo a cada refeição. Entre os anos de 2008 e 2018, 2 milhões de recém-nascidos foram beneficiados com 2 milhões de litros de leite humano de 1,8 milhão de mulheres, segundo a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (RBLH). Contudo, a quantidade de leite coletado supre 55% da demanda real. Por isso, o Ministério da Saúde lança campanha anuais, a fim de aumentar os estoques de leite humano nos bancos de leite de todo o Brasil.
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Com o slogan “Doe Leite Materno, alimente a vida”, a campanha de 2019 objetiva estimular as gestantes e as mulheres que amamentam a fazerem doações durante todo o ano e não apenas nos períodos de campanha, em que o volume de leite materno doado aumenta. Em feriados prolongados e no período escolar, a quantidade coletada diminui. Os profissionais de saúde que atuam no SUS também são público-alvo da campanha, já que eles têm um papel fundamental na sensibilização das gestantes e lactantes que são atendidas nos serviços de saúde.
Com o olhar de quem já precisou, já doou e de quem tem conhecimento técnico para falar do assunto, Viviane Pacheco formou-se em enfermagem e hoje atua na área de Saúde da Criança no Rio de Janeiro. Antes disso, ela gerenciou o Banco de Leite de um hospital no Rio de Janeiro. “Como profissional de saúde, sei da extrema importância do leite humano para a saúde dos bebês. Quando você doa leite você não só doa alimento, você doa vida e isso não tem preço”, fala Viviane, com conhecimento de causa.
O Dia Mundial de Doação de Leite Humano é celebrado em 19 de maio por iniciativa do Brasil, aceita pelos países que integram a Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH). Entre 2008 e 2018, o número de doadoras cresceu 45% e o volume de leite coletado, 30% em nosso país. No ano passado, mais de 185 mil crianças receberam leite humano doado de quase 183 mil mulheres. Foram 215 mil litros de leite humano coletados.
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Com a maior e mais complexa rede de banco de leite do mundo, o Brasil é referência internacional por utilizar estratégias que aliam baixo custo e alta tecnologia. A RBLH – que é uma iniciativa do Ministério da Saúde, por meio do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) - exporta essa tecnologia para 22 países da América Latina, Caribe, Península Ibérica e está em fase inicial da cooperação técnica para outros quatro. Desenvolvida há 34 anos, a estratégia brasileira tem como foco a promoção, a proteção e o apoio ao aleitamento materno até os 2 anos de vida, sendo de forma exclusiva até os 6 meses de idade.
Hoje, há no Brasil 225 bancos de leite humano, sendo que cada um dos 26 estados e o Distrito Federal possui pelo menos um. A média nacional é de 45 bancos de leite por macrorregião do país. Além disso, estão disponíveis 212 postos de coleta, além da coleta domiciliar disponível em alguns estados. Todo o leite humano coletado passa por um rigoroso controle de qualidade antes de ser distribuído e é fornecido de acordo com as necessidades de cada recém-nascido.
Os BLHs são serviços especializados de apoio à amamentação que surgiram como uma estratégia de qualificação da assistência neonatal em termos de segurança alimentar e nutricional, e visa contribuir para a redução da mortalidade infantil em instituições hospitalares. São responsáveis por ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e execução de atividades de coleta da produção lática da nutriz, do seu processamento, controle de qualidade e distribuição.
Para se tornar uma doadora ou tirar quaisquer dúvidas, as mulheres devem procurar os bancos de leite (clique aqui). Em 2018, os Bancos de Leite do país registraram 394.708 atendimentos em grupos, 1.877.601 de atendimentos individuais e 276.337 atendimentos domiciliares.
Na cerimônia de lançamento da campanha, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, recebeu da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, a Carta Brasil 2018, compromisso da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano com a excelência do SUS; e o Plano de Ação 2020-2023 da Rede de Banco de Leite Humano: Ação Interunidades Fiocruz. Trata-se de um conjunto de ações estratégicas para o fortalecimento das capacidades científica, produtiva, tecnológica, gerencial e de garantia da qualidade da Rede Global para responder as demandas da rede pública de saúde.
O ministro Mandetta também realizou a entrega de placas de certificação da Ação de Apoio à Mulher Trabalhadora que Amamenta a cinco salas de apoio à amamentação: Furnas Centrais Elétricas S/A (1); Fundação Real Grandeza (1); Secretaria Estadual de Saúde (1); e Centro de Pesquisas de Energia Elétrica – CEPEL (2, sendo 1 na unidade do município do Rio de janeiro e outra em Nova Iguaçu). Duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Rio de Janeiro também recebem placas de certificação pela promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno para a mulher trabalhadora que amamenta: UBS Família do Carmo Antônio Francisco em Quissamã, e a Equipe de Saúde da Família Vila Felipe, em Petrópolis.
Por Zinda Perrú e Renata Ramalho, da Agência Saúde
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